Mais de mil religiosos e leigos
franciscanos e franciscanas de todo o Brasil, se reuniram de 3 a 6 agosto no
Santuário de Aparecida. A seguir a carta aberta aprovada no final do encontro.
CARTA DE APARECIDA
“Ouvir tanto o clamor da terra como o clamor dos pobres. ” LS,49
A Conferência da Família Franciscana
do Brasil, celebrando o Capitulo Nacional das Esteiras, consciente de sua
missão de “levar ao mundo a misericórdia de Deus”, dirige-se a todas as pessoas
de boa vontade: àquelas que continuam acreditando em um mundo de justiça e
fraternidade e àquelas que, em meio às contradições e crueldades de nosso
tempo, vivem a dor da desilusão e da falta de esperança.
As partilhas realizadas nesses dias
nos levam a afirmar: vivemos um verdadeiro Pentecostes. Neste sentido, o
Capítulo nos chamou a um revigoramento do Carisma e nos levou a fazer memória
da herança, da inspiração originária que deu início ao movimento franciscano. A
experiência das esteiras nos leva a retomar nossa vocação enquanto peregrinos e
forasteiros.
As bases nas quais foram construídas
a nossa história estão marcadas pelo sangue dos pobres e pequenos, indígenas,
mulheres e jovens negros, por um extrativismo desmedido e destruidor, por uma
economia que exclui a maioria, por destruição de povos, culturas e da natureza.
À luz do nosso carisma, compreendemos que se faz necessário construir um novo
horizonte utópico que nos comprometa com a construção de um projeto de país com
justiça e paz em respeito à integridade da criação.
Somos sensíveis ao grito dos
empobrecidos e da Mãe Terra! É preciso agir com misericórdia para com eles e,
com indignação diante desse sistema que exclui, empobrece e maltrata, e
convocarmos a todos para se unirem à luta que hoje assumimos juntos: participar
da reconstrução da Igreja com o Papa Francisco e reconstruir o Brasil em
ruínas.
É chegado o momento de recolhermos
nossas esteiras e as lançarmos sobre o chão das periferias do mundo,
transformando continuamente nossa maneira de Ser, Estar e Consumir em reposta
aos apelos do Papa Francisco.
A realidade ecológica e
sócio-política-econômica do nosso país nos exige compromisso profético de
denúncia e anúncio. Assistimos, tomados de ira sagrada, à violação dos
direitos conquistados, através de muitos esforços, empenhos e articulação pelo
povo brasileiro. Por isso, não podemos deixar de nos empenhar junto aos
movimentos sociais na luta “por nenhum direito a menos”, contra golpes,
reformas retrógadas e abusivas conduzidas por um governo ilegítimo, um
parlamento divorciado dos interesses da população e uma justiça que tem
se revelado fora dos parâmetros da equidade “que no lugar de fortalecer o papel
do Estado para atender às necessidade e os direitos do mais fragilizados,
favorece os interesses do grande capital”¹.
Dessa Cidade de Aparecida, Nossa
Senhora, Padroeira do Brasil, resgatada das águas de um rio, hoje poluído e
degradado, nos faz eleger dentre os diversos apelos um compromisso particular
com a Irmã Água. Deste modo, nos empenharemos na construção de um processo de
reflexão e ação em defesa da água como bem comum, que se dará através da
participação da família em jornadas, fóruns e nas iniciativas de fortalecimento
dos trabalhos ligados à promoção da Justiça e da Integridade da Criação.
Tudo isso acontece, irmãs e irmãos,
porque São Francisco nos ensinou que nos momentos mais difíceis de nossas vidas
devemos voltar à Casa da Mãe. Ele e seus irmãos voltavam, com frequência, à
pequena igreja de Santa Maria dos Anjos, a Porciúncula. Nós voltamos ao
Santuário de Nossa Senhora Aparecida, neste 300 anos de caminhada com os
pequenos desta terra.
“Óh Mãe preta, óh Mariama, Claro que
dirão, Mariama, que é política, que é subversão, que é comunismo. É Evangelho
de Cristo, Mariama!”, ainda assim, invocamos suas bênçãos sobre toda a nossa
família e sobre um Brasil sedento de “Paz – fruto da justiça, do bem e da
Misericórdia de Deus”
06 de agosto de 2017
Conferência da Família Franciscana do
Brasil
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